Finalmente a tão sonhada maioridade chegou. Marianna completou dezoito anos! Da noite para o dia dezoito anos. Junto com seu aniversário, um mundo infinito de possibilidades se abriam para ela. Coisas que até ontem eram proibidas, passaram a fazer parte de seus desejos.
Se bem que algumas coisas proibidas já faziam parte de sua rotina: como beber e fumar. Marianna colocou seu primeiro cigarro na boca quando tinha quinze anos. Quando Marianna saía, tinha que estar em casa até no máximo meia-noite. Quando finalmente fez dezoito anos, acabou aquela história de meia-noite. Marianna só voltava para casa quando queria, sempre acompanhada de sua amiga Margarida.
Um outro antigo desejo de Marianna finalmente se concretizou. Pôde finalmente fazer sua tatuagem. Todos os seus conhecidos tinham uma: Tio Ed, seus antigos amigos da DPT, Laura, a única exceção era Margarida.
Vários tatuadores frequentavam a Feirinha que acontecia toda quinta-feira à noite. Um em especial era o mais requisitado pelos jovens, seu nome era Carlos, mais conhecido como Carlinhos. Um dia Marianna perguntou para ele qual era o preço de uma tatuagem. Ele respondeu sua pergunta com outra pergunta. Primeiro queria saber quantos anos Marianna tinha. A resposta na época era dezessete anos. Então Carlinhos pediu que Marianna só o procurasse quando completasse dezoito anos, pois não tatuava menores de idade. (Carlinhos teve que responder na justiça por ter feito uma tatuagem em uma garota menor de idade e não queria passar por isso de novo).
Marianna teve que ir na Feirinha três vezes seguidas para encontrar Carlinhos. Ele tinha um estúdio e muitas vezes tatuava até tarde. Assim que o avistou Marianna combinou que no próximo domingo Carlinhos iria até sua casa.
Domingo chegou e Carlinhos foi até a casa de Marianna, levando junto sua namorada Cida, além de todo o material necessário para a tatuagem. Marianna achava Cida a garota mais sortuda do mundo, por namorar um cara tão legal quanto Carlinhos.
A mãe de Marianna quase teve um colapso ao saber que sua filha ia se tatuar. Ao subir a escada que dava acesso a sua casa, a mãe de Marianna virou o pé e teve que ser levada ao pronto socorro. Marianna achou que a mãe tinha feito isso de propósito. Mesmo assim ela continuou com seu objetivo.
Entre tantos desenhos, Marianna optou por um tribal nas costas. Assim em um lugar estratégico, não corria o risco de enjoar e se arrepender mais tarde. Também só o mostraria quando quisesse usar uma blusa aberta nas costas. Marianna tinha o grave defeito de se enjoar das coisas rápido demais.
Antes de começar Marianna ligou o som e colocou um CD do The Doors, cuja segunda música era "Riders on the storm". Carlinhos usava luvas e agulhas descartáveis. Sua tinta era importada. Marianna sentou-se em uma cadeira e usou uma pequena almofada para apoiar os braços. Marianna contou-me que a princípio a tatuagem doeu muito para fazer, doeu porque Marianna estava tensa demais. Aos poucos Marianna foi relaxando e já não sentia mais dor. Restava apenas o barulho da máquina e a voz do Jim Morrison tocando ao fundo. Quando Carlinhos finalmente terminou a tatuagem, a mãe de Marianna chegou do hospital com o pé enfaixado amparada em par de muletas.