Marianna precisava urgentemente conhecer o loiro da janela. Já tinha até uma música que quando ouvia, lembrava-se dele: "Luz dos Olhos", composição de Nando Reis, na voz de Cássia Eller:
"Ponho os meus olhos em você, se você está"
Quando o loiro aparecia na janela, ela obviamente não tirava os olhos de lá.
"Dona dos meus olhos é você, avião no ar"
Na verdade o Loiro era o 'Dono' dos olhos de Marianna. Um avião no alto da janela.
"Um dia para esses olhos sem te ver, é como o chão do mar"
Marianna ficava muito deprimida quando o Loiro não aparecia, quando a janela ficava fechada.
Em duas ocasiões, Marianna pôde ficar bem próxima do rapaz, que era o alvo dos seus sonhos mais loucos. Dos sonhos sim, porque ela sonhava com ele quase todas as noites.
Toda sexta-feira, na região em que Marianna trabalhava, havia uma Feirinha de comidas e bebidas. Uma Feirinha muito parecida, com a que Marianna frequentava quando era adolescente. Depois de uma semana cansativa de trabalho, um "happy hour" vinha bem a calhar para qualquer um. Menos para Marianna. Ela tinha que sair correndo do trabalho e chegar logo em casa, para ver seu filho Bruce. Em uma sexta-feira Marianna ficou com vontade de comer uma vaca atolada, então pediu à seu Coordenador, para dar um pulinho na Feirinha e comprar uma porção para viagem.
Marianna estava parada na calçada esperando o sinal abrir para os pedestres. Nas mãos, uma sacola com o marmitex de vaca atolada dentro, quentinho. Ao atravessar a Avenida, quem Marianna viu no meio de toda aquela gente?
O Loiro da janela. Todo de preto: calça, camisa, coturno e nas mãos um guarda-chuva também preto, pois uma garoa fininha, teimava em cair naquela sexta-feira.
Ele passou e Marianna ficou feliz, por poder ver o Loiro mais de perto, para logo depois ficar muito triste em imaginar que um cara lindo como aquele, nunca daria 'bola' para ela.
Em uma segunda ocasião, Marianna estava no horário de almoço, andando pela rua, quando em frente a uma banca de jornal, mais uma vez o Loiro estava lá: De chinelos, bermuda e uma camiseta. Marianna notou uma tatuagem em seu braço direito. Uma caveira que mais parecia um demônio. O rapaz estava em pé, parado, lendo uma revista em uma mão e na outra mão, uma de suas gaiolas com um lindo curió que cantava, alheio ao sofrimento de Marianna. Marianna que nunca gostou de ver pássaros aprisionados em gaiolas, achava que aquela situação era um sinal, ela via sinais em tudo, desde que começou a frequentar o Coven de Wicca.
Dessa vez, o loiro olhou bem nos olhos verdes dela. Olhou e sorriu. Marianna retribuiu o sorriso, passou pela banca e fez algo que raramente fazia, quando sentia que era observada: Marianna olhou para trás. O Loiro continuava lá parado, sorrindo e olhando para o traseiro de Marianna, que diga-se de passagem, era um traseiro de fazer qualquer marmanjo babar. Marianna conseguiu ouvir o dono da banca, dizendo algo para o Loiro. Mas o barulho dos carros, impediu que Marianna pudesse entender o que os dois estavam conversando.
Marianna voltou para o escritório e ficou imaginando uma maneira de se aproximar do Loiro. Afinal de contas, Marianna era persistente. Quando queria alguma coisa, ela corria atrás.