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sábado, 28 de maio de 2011

Contatos imediatos

Marianna precisava urgentemente conhecer o loiro da janela. Já tinha até uma música que quando ouvia, lembrava-se dele: "Luz dos Olhos", composição de Nando Reis, na voz de Cássia Eller:

 "Ponho os meus olhos em você, se você está" 

Quando o loiro aparecia na janela, ela obviamente não tirava os olhos de lá.

"Dona dos meus olhos é você, avião no ar"

Na verdade o Loiro era o 'Dono' dos olhos de Marianna. Um avião no alto da janela.

"Um dia para esses olhos sem te ver, é como o chão do mar"

Marianna ficava muito deprimida quando o Loiro não aparecia, quando a janela ficava fechada.


Em duas ocasiões, Marianna pôde ficar bem próxima do rapaz, que era o alvo dos seus sonhos mais loucos. Dos sonhos sim, porque ela sonhava com ele quase todas as noites.

Toda sexta-feira, na região em que Marianna trabalhava, havia uma Feirinha de comidas e bebidas. Uma Feirinha muito parecida, com a que Marianna frequentava quando era adolescente. Depois de uma semana cansativa de trabalho, um "happy hour" vinha bem a calhar para qualquer um. Menos para Marianna. Ela tinha que sair correndo do trabalho e chegar logo em casa, para ver seu filho Bruce. Em uma sexta-feira Marianna ficou com vontade de comer uma vaca atolada, então pediu à seu Coordenador, para dar um pulinho na Feirinha e comprar uma porção para viagem.


Marianna estava parada na calçada esperando o sinal abrir para os pedestres. Nas mãos, uma sacola com o marmitex de vaca atolada dentro, quentinho. Ao atravessar a Avenida, quem Marianna viu no meio de toda aquela gente? 

O Loiro da janela. Todo de preto: calça, camisa, coturno e nas mãos um guarda-chuva também preto, pois uma garoa fininha, teimava em cair naquela sexta-feira.

Ele passou e Marianna ficou feliz, por poder ver o Loiro mais de perto, para logo depois ficar muito triste em imaginar que um cara lindo como aquele, nunca daria 'bola' para ela.

Em uma segunda ocasião, Marianna estava no horário de almoço, andando pela rua, quando em frente a uma banca de jornal, mais uma vez o Loiro estava lá: De chinelos, bermuda e uma camiseta. Marianna notou uma tatuagem em seu braço direito. Uma caveira que mais parecia um demônio. O rapaz estava em pé, parado, lendo uma revista em uma mão e na outra mão, uma de suas gaiolas com um lindo curió que cantava, alheio ao sofrimento de Marianna. Marianna que nunca gostou de ver pássaros aprisionados em gaiolas, achava que aquela situação era um sinal, ela via sinais em tudo, desde que começou a frequentar o Coven de Wicca. 


Dessa vez, o loiro olhou bem nos olhos verdes dela. Olhou e sorriu. Marianna retribuiu o sorriso, passou pela banca e fez algo que raramente fazia, quando sentia que era observada: Marianna olhou para trás. O Loiro continuava lá parado, sorrindo e olhando para o traseiro de Marianna, que diga-se de passagem, era um traseiro de fazer qualquer marmanjo babar. Marianna conseguiu ouvir o dono da banca, dizendo algo para o Loiro. Mas o barulho dos carros, impediu que Marianna pudesse entender o que os dois estavam conversando.

Marianna voltou para o escritório e ficou imaginando uma maneira de se aproximar do Loiro. Afinal de contas, Marianna era persistente. Quando queria alguma coisa, ela corria atrás. 

domingo, 22 de maio de 2011

Um acontecimento inesperado

Os dias passaram voando. A rotina de Marianna permanecia inalterada: Levantar-se de segunda a sexta-feira, às cinco horas da manhã. Deixar o pequeno Bruce, pegar um ônibus vermelho, pegar o metrô, pegar um ônibus amarelo para finalmente chegar no trabalho. Trabalhar de oito às dezoito, com duas horas de almoço que Marianna achava o fim, poderia muito bem fazer apenas uma hora só de almoço e sair às dezessete. Nos fins de semana, casa para arrumar, roupa para lavar e passar.

Uma vez por semana, Marianna ia nos encontros de Wicca, no Coven de L. Luz.  


O rapaz loiro continuava na janela, todos os dias de manhã fumava um cigarro, sumia, voltava com uma gaiola, voltava, retirava a gaiola, fechava a janela e sumia novamente.

Seis meses se passaram. Seis meses voaram, como areia na ampulheta na vida de Marianna.

 
Um dia o loiro sumiu, simplesmente não abriu a janela, durante um dia inteiro. No dia seguinte a mesma coisa. Durante uma semana  toda, a janela permaneceu fechada. 

Marianna tinha acabado de descer do ônibus amarelo, junto com sua colega Rose, que trabalhava na mesma empresa que ela, porém em um setor diferente, juntas caminhavam rumo a mais um dia de trabalho:

- O Loiro sumiu tem uma semana. Será que aconteceu alguma coisa? Um acidente de carro, talvez.

- Ele pode ter se mudado, ou ainda viajado Marianna. 

- Pode ser Rose, como é que eu vou saber?

- Esse seu amor platônico, está ficando sério Marianna.

- Vai ficar sendo só platônico Rose. Como um Loiro que mora na Zona Sul, vai querer alguma coisa com uma proletária que mora em uma cidade dormitório, que passa quatro horas diárias espremida dentro de ônibus e metrôs, indo e vindo para o trabalho?

- Uma proletária linda: morena de olhos verdes, trabalhadora, uma mulher de fibra, que corre atrás do que quer. 

- Obrigada por tentar levantar minha moral. Vamos passar na lanchonete? Me deu vontade de comer um pão com queijo quente.

- Vamos sim. 

Marianna e Rose entraram na lanchonete. O rádio estava ligado, sintonizado em uma estação onde havia e ainda há um programa chamado "Do fundo do Baú" e como o próprio nome dizia, só tocava música velha. A música que tocava era "Hotel Califórnia" do Eagles.


- Bom dia Leila, tudo bem?

- Bom dia Rose, bom dia Marianna. O que vocês querem?

- Um pão com queijo quente, por favor. Responderam as duas juntas.

Enquanto o queijo derretia na chapa. Um cliente entrou e pediu um maço de cigarros, quando Marianna olhou para o lado, gelou. Ali do seu lado, estava o rapaz loiro da janela, vestia uma  camisa preta, uma bermuda xadrex e calçava um par de havaianas. Os cabelos longos e soltos  batiam no meio das costas, estavam molhados e cheiravam a shampoo, como se ele tivesse acabado de sair do banho. De perto ele era mais lindo que de longe. E o sorriso? Lindo! Marianna ficou com o olhar mais derretido que o do queijo que derretia na chapa. O rapaz pegou o cigarro e saiu.

- Ei Marianna, que cara é essa? Algum bicho te mordeu?

- Era ele Rose.

- Ele quem Marianna? Você está pálida. 

- Era o loiro da janela.

- Não brinca, eu nem vi.

- Ele é lindo Rose. Mais lindo de perto, do que de longe.

- Marianna apaixonada pelo Loiro da janela, agora eu vi tudo!

domingo, 15 de maio de 2011

Sonhando acordada

No dia em que a mãe de Marianna soube, que a filha estava frequentando um Grupo de Wicca, literalmente o "bicho pegou".

- Você deve estar ficando doida Marianna. Quer dizer que agora você é bruxa?



- Ainda não, estou apenas lendo livros, participando de rituais. Olha mãe, não se meta na minha vida. Eu já sou bem grandinha.

- E quanto mais "grandinha" você fica, mais aumenta sua loucura.

- Eu moro sozinha com meu filho, na minha casa e pago todas as minhas contas.

- E o pior é que você ainda leva, meu neto para essas bruxarias.

- O pessoal trata o Bruce super bem. E o pai dele, nem está vindo mais buscá-lo de 15 em 15 dias, como ficou combinado na separação. Assim, eu levo ele sim. E antes dele ser seu neto, ele é meu filho.

- Ou você sai dessa história de bruxaria ou...

- Ou então o quê? Você está me ameaçando? Você acha que lá no Coven eles vão engordar o Bruce, igual na história de Joãozinho e Maria, para depois comê-lo em algum ritual Satânico?


- Eu te interno num hospício Marianna. Te interdito e fico com a guarda do Bruce para mim.

- E consequentemente, com minha renda também! Sempre o dinheiro no meio, 'né' mãe? No final, você não está nem aí para seu neto, o que sempre importou para você foi a grana. Tenta a sorte então! Fui.

Marianna saiu da casa da mãe, disposta a não mais voltar, pelo caminho cantarolava "Carta aos Missionários" do Uns e Outros.


A relação de Marianna com a mãe sempre foi tensa demais. Na verdade, a mãe de Marianna não engolia o fato, da filha não ter voltado para sua casa após o divórcio. Morando longe, não haveria como controlar a vida da filha.

Após o fim do namoro com Dinho (namoro esse que nunca foi oficializado), Marianna não havia ficado com ninguém. No trabalho, apesar de se relacionar com vários homens, nenhum deles instigava Marianna. Ela era daquele tipo de pessoa que fazia valer o velho ditado: "Onde se ganha o pão, não se come a carne".

O prédio onde estava localizada, a empresa onde Marianna trabalhava, ficava num dos metros quadrados mais caros da Capital Mineira. 


Da sua mesa, Marianna avistava um prédio residencial. Um dia, Marianna notou um homem em uma das janelas: o que chamou a atenção de Marianna, foram os cabelos grandes e loiros do jovem.

Todos os dias pela manhã Marianna observava-o fumando um cigarro, sem camisa. De longe não dava para saber se ele era bonito ou não. Depois de fumar o loiro desaparecia, para surgir cerca de 10 minutos depois  com uma gaiola na mão. Ele colocava a gaiola na janela e saía.

Marianna ficava todos os dias de olho na janela. Ela sempre gostou da chuva. Mas nos dias chuvosos Marianna ficava deprimida, pois a janela ficava fechada.

Marianna olhava o loiro, que nem sequer sabia que ela existia e pensava:

- Um loiro desses, nunca vai cair na minha rede...


domingo, 8 de maio de 2011

Novas descobertas

O ano era 2002. Marianna adorava a companhia de Dinho. Ele sempre foi muito divertido, contando piada e fazendo Marianna rir sempre. Muito mais que um envolvimento sexual, havia uma amizade muito bonita entre eles. 

Marianna seria capaz de ficar horas, ouvindo Dinho tocar violão para ela. Ele tocava e ela cantava, desafinada mas cantava. Ela sempre teve um conhecimento musical invejável, era difícil ouvir uma música que ela não conhecia, sabia sempre as letras das músicas todas, sem errar uma vírgula.

- Toca uma do Led prá mim Dinho.

- Qual você quer ouvir?

- Kashmir, você sabe tocá-la.

- Essa música é muito difícil mas vou tentar.

- E você sabe cantar ela toda?

- Vai tocando aí Dinho, que eu vou tentar:


"Oh, let the sun beat down upon my face
Stars to fill my dream
I am a traveler of both time and space
To be where I have been

To sit with elders of the gentle race
This world has seldom seen
They talk of days for which they sit and wait
When all will be revealed"


Marianna e Dinho nunca oficializaram o namoro. Não que Marianna não quisesse, Dinho é quem não queria. Ele tinha outras prioridades, que eram reformar a casa de Mamãe e montar uma empresa com nossos irmãos.
Marianna seria sempre minha ex-futura-cunhada.

Depois de um tempo ela se cansou da indecisão de Dinho e resolveu partir para outra. Como eles não eram namorados, nem nada, simplesmente ela parou de ligar.

Um dia na empresa onde trabalhava, Marianna conheceu uma recepcionista de nome Laura. Essa moça intrigava Marianna com um certo ar de mistério.

Um dia Marianna resolveu conversar com ela.

- Qual a sua religião?

- Na verdade eu sigo uma Arte.

- Arte, como assim?

- Wicca, já ouviu falar?

- Somente nos livros de Paulo Coelho.

- Eu participo de um Coven, se um dia você quiser conhecer, será bem vinda.

Marianna resolveu conhecer o "tal" Coven, do qual ela não fazia a menor ideia do que seria.  A Sacerdotisa Mestre do Coven era linda: Cabelos pretos e longos, uma verdadeira Bruxa dos tempos modernos. Marianna participou de várias reuniões, leu vários livros sobre a Grande Mãe e o Deus Cornífero.


Descobriu que a maioria das pessoas que frequentavam esse lugar (nem todas, é claro) iam por causa do "Status" de serem chamados de "Bruxos". Marianna jamais usou um pentagrama ou qualquer outro objeto que a pudesse identificá-la como uma Bruxa, Marianna jamais se considerou uma.



A primeira e única Lição que Marianna aprendeu, foi sobre a Lei Tríplice. Qualquer coisa que ela fizesse para outras pessoas, voltaria para ela três vezes mais forte. 

Marianna viajou para um lindo sítio onde participou do Ritual das Fadas. Cantou em volta da fogueira. A milenar fogueira, onde tantas pessoas morreram na época da inquisição. E viu coisas inacreditáveis.

Quando Dinho soube que Marianna estava participando do Coven, ele correu atrás dela. Ligava, convidando-a para sair. Ia na casa dela, com a desculpa de pegar algum CD emprestado. 

Marianna percebeu o súbito interesse de Dinho, mas não deu o braço a torcer. Afinal ela era a mesma, o fato de participar de um Coven, não lhe conferia poderes paranormais da noite para o dia. 

domingo, 1 de maio de 2011

Enfim...

Sempre que podiam, Marianna e Dinho se encontravam. Apesar dos horários apertados de trabalho de ambos.

Um dia convidei Marianna, para ir na casa de nossos pais. Nossa mãe faz aniversário um dia depois do pai de Marianna (outra coincidência).

- Marianna, no próximo domingo é o aniversário da Mamãe, você quer ir conosco na casa dela?

- Vamos sim Bia, apesar de que o Dinho vai estar lá e você sabe como é...

- Como assim?

- Nós estamos ficando, há uns dois meses e...

- Marianna, o Dinho é muito enrolado, pior que linha em carretel. Ele é o único irmão que nunca levou uma moça até a casa de Mamãe e não a apresentou como namorada. Ele é muito tímido.

O domingo chegou e fomos todos: Eu, Lau, nossa filha, Marianna e o filho dela.

Ela conheceu então toda a família, Papai, Mamãe, todos os irmãos e esposas, sobrinhas. Isso porque só nascem meninas. Somos oito irmãos e todos tiveram filhas meninas, sete netas ao todo. A casa da Mamãe, deveria se chamar: "A casa das sete meninas".

- Deve ser bom ter uma família assim grande. Todos reunidos domingo. Falou pensativa Marianna.

- Não se engane, tem sempre uma cunhada, que fica de olho, quando a outra compra algo. Tem fofoca como em toda a família. Respondi.

- A minha mãe destruiu nossa família, jogando irmão contra irmão. Depois que me divorciei então, sou a ovelha negra, que nem vai mais à igreja, que nem comungar pode mais. Respondeu Marianna.

Finalmente Marianna conheceu o tão famoso estúdio dos meus irmãos. Lá dentro, isolamento acústico, um pequeno palco, um computador de última geração, com um programa de música. Todos os instrumentos: guitarra, baixo, bateria, teclado.

Dinho estava trabalhando. No estúdio estavam Cristiano e Flávio, que insitiram para que Marianna subisse no palco. Marianna então se aventurou a pegar o microfone. No fundo, seu grande sonho, foi ter uma banda de Rock. O sonho de oito em cada dez adolescentes. Mas, Marianna não era mais uma adolescente, ela tinha 24 anos naquele ano de 2002.

- Ei Marianna, canta alguma coisa para nós. Eu toco a guitarra. Falou Cristiano.

- Eu sou muito desafinada. Respondeu Marianna.

- Pode ser qualquer coisa. Deixa que da bateria cuido eu. Continuou Flávio.

- Tudo bem, só um pouquinho, vocês sabem tocar Losing my Religion, do R.E.M?

O som dos instrumentos, encheu o estúdio. Marianna então cantou:

"Oh, life is bigger
It's bigger than you
And you are not me
The lengths that I will go to
The distance in your eyes
Oh, no I've said too much
I set it up"



Nesse instante Dinho chegou e ficou vendo Marianna, do outro lado do vidro do estúdio. Então ela parou de cantar.

- Não pare só porque eu cheguei.

- Não dá, eu sou muito desafinada.

- Para isso dá-se um jeito. O importante é que você tem ritmo.

Quando percebeu, estava sozinha no estúdio com Dinho, ou outros saíram sem que ela percebesse.

- Você está linda Marianna.

- Obrigada.

Dinho trancou a porta do estúdio e olhou para Marianna com um olhar divertido. Pouco tempo depois, os dois estavam rolando no chão do estúdio, perdidos no meio de tantos fios e instrumentos.

- Não Dinho, aqui não.

- Por quê?

- Porque estamos na casa dos seus pais, porque é a primeira vez que venho aqui e porque meu filho está lá embaixo. E porque para alguém tímido, você está querendo ir longe demais.

- O Bruce está brincando com minhas sobrinhas, todos estão se divertindo. Eu sou tímido, não sou louco de não ficar com você vendo-a tão linda assim, tão perto de mim.

Dinho insistiu mais um pouco, com uma habilidade surpreendente, ele desabotoou o jeans que Marianna usava. Seus beijos deixaram Marianna sem fôlego, ele tirou sua blusa e beijou todo seu corpo. Marianna tirou a camisa de Dinho. A vontade dos dois era tamanha que nada nem ninguém, seria capaz de interromper aquele instante. Dinho tocou os seios de Marianna, que estremeceu. Com uma ousadia, uma força que parecia que vinha de fora dele, ele possuiu Marianna, ali chão do estúdio.