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domingo, 24 de julho de 2011

Regina se decide

Marianna que pretendia ficar ao menos quinze dias no Sul da Bahia, voltou em menos de uma semana. Bruce não parava  de chorar e não dava sossego. A irmã de Marianna vomitava sem parar, devido a gravidez. Marianna que havia viajado, para colocar as ideias no lugar, a respeito de Altair, só tinha um desejo: ficar com ele para "sempre".

Se é que "sempre" existe.  Assim como na música "Forever" do Kiss, Marianna não tinha mais dúvida alguma.


- Ei Marianna eu estou falando com você. Disse Regina.

- Desculpa. É que eu estava longe. O que você falou mesmo? Perguntou Marianna.

- Assim que chegarmos em Minas. Eu vou procurar alguém para tirar meu bebê.

- Do que você tem medo? Afinal, você não será a primeira nem a última mãe solteira.

- Mãe solteira não é o problema. O problema é nossa mãe.

- Você deveria ter pensado nisso antes. Agora fala baixo, que vamos acordar o ônibus todo.


Assim que ônibus chegou à Capital Mineira, Marianna pegou Bruce e foi para sua casa. Regina também foi para casa e uma semana depois, conseguiu encontrar uma senhora que fazia abortos. Regina que sempre teve um medo mortal de tomar uma simples injeção, deitou-se na cama e ficou esperando a mulher começar o serviço. Assim deitada, Regina lembrou-se da conversa que teve com Marianna. Lembrou-se do seu sobrinho Bruce, correndo feliz e chorou.

- Você tem certeza que você quer tirar o bebê? Perguntou a mulher.

- Eu não vou tirar mais. Eu vou ter o meu filho. Me desculpe, fazer a Senhora perder o seu tempo.

- Tudo bem. Isso acontece.

Regina desistiu de fazer o aborto e contou tudo para o pai da criança. Juntos decidiram se casar. Como mandava o figurino: Regina se casou no cartório e na igreja. Apesar da barriga estar bem grande no dia do casamento. Era evidente que  todos sabiam que a noiva estava grávida.


Apesar de ter ficado com raiva de Marianna, esta compareceu ao casamento. Seu velho amigo Danilinho, levou Marianna na igreja e ficou ao seu lado o tempo todo. Marianna queria que Altair estivesse ao seu lado. Mas ela sabia que seria muito difícil Altair se livrar do seu casamento. Marianna não queria ser a "outra" para o resto da vida. Marianna já tinha tomado sua decisão. Agora quem deveria se decidir, seria Altair.

domingo, 17 de julho de 2011

Difícil decisão

Marianna pensava que ia ter paz e sossego para colocar as ideias no lugar, mas ela estava redondamente enganada. Os acontecimentos que se desenrolaram naquelas fatídicas férias,  proporcionaram um sentimento de impotência em Marianna.

Marianna embarcou na Rodoviária de Belo Horizonte, junto com o filho Bruce e a irmã Regina, rumo à Caravelas no Sul do Estado da Bahia. Mas Caravelas não era o "ponto final" daquela viagem. Era necessário ainda 'tomar' outro ônibus para o Distrito de Ponta de Areia, onde residia a avó materna das irmãs. 


Ponta de Areia parecia um vilarejo esquecido no mapa. Apenas algumas casas em estilo francês, remetiam ao passado glorioso da Vila que um dia foi "Ponto final da Bahia-Minas" imortalizada na música de Milton Nascimento, que Marianna adorava ouvir na Voz de Elis Regina.

"Ponta de areia ponto final
Da Bahia-Minas estrada natural
Que ligava Minas ao porto ao mar
Caminho de ferro mandaram arrancar
Velho maquinista com seu boné
Lembra do povo alegre que vinha cortejar
Maria fumaça não canta mais
Para moças flores janelas e quintais
Na praça vazia um grito um oi
Casas esquecidas viúvas nos portais"


A avó de Marianna era uma dessas viúvas que ficava na janela. Apesar de ter mais de oitenta anos e ser cega.  Houve um tempo em que Dona Maria conhecia as pessoas que passava pela rua, apenas ouvindo o som dos passos. Mas a idade avançada, fazia Marianna pensar que essa seria a última vez que veria a avó com vida. Bruce que iria completar três anos, se recusou em chegar perto da velha bisavó. 

Apesar da mãe sempre negar que o nome da irmã era uma homenagem a Elis Regina, Marianna sempre pensou o contrário. Agora ela estava em Ponta de Areia, acompanhada da irmã Regina que estava grávida e do Filho Bruce que não parava de chorar. Também com um calor de mais de quarenta graus, era de se esperar que o pequeno estranhasse.

Marianna que adorava tirar fotos, não conseguiu tirar uma só que prestasse. Regina não queria aparecer em nenhuma, apesar da gravidez estar no início, tinha medo que alguém visse as fotos e desconfiasse. Bruce chorava sem parar e só queria ficar no colo.

Na praça de Ponta de Areia debaixo de uma árvore muito antiga, que muitos diziam ser mal assombrada, Marianna e Regina conversavam:


- Marianna você vai me ajudar, não vai?

- Você quer que eu te ajude a contar pra nossa mãe, que você está grávida?

- De jeito nenhum.

- Então...

- Eu não posso ter esse bebê. Eu preciso tirar ele de dentro de mim o mais rápido possível.

- Olha Regina estamos no ano de 2004. Existe camisinha, pílula anticoncepcional, pílula do dia seguinte e mesmo assim você engravidou. E se você tivesse pegado Aids?

- Credo, vira essa boca pra lá.

- Mas poderia ter acontecido ou até mesmo uma sífilis, gonorréia e outras tantas doenças. Você tem que virar pro pai do seu filho e pedir para ele te ajudar isso sim!

- Ele vai me ajudar. Ele falou que vai me dar dinheiro para fazer o aborto.


- Então ele que arrume alguém. Eu não posso compactuar com uma monstrualidade dessas.

- Se você não me ajudar, eu posso cair na mão de um açougueiro e morrer. Então você vai ficar com remorsos o resto da vida.

- Na hora que vocês gozaram eu estava lá?

- Por favor, não fale assim. Pediu Regina com os olhos marejados.

- O que faz você pensar, que eu conheço alguém que faz isso?

- Você conhece tanta gente. Você é independente, separou do marido e não voltou para a casa da mãe, como fazem tantas mulheres. Eu nunca quis ser mãe eu nem tenho jeito para isso. E o pior de tudo: eu nem trabalho!

- Qualquer argumento que você disser, não vai me comover, pense no seu filho! Ele é apenas uma sementinha dentro de você, mas seu coraçãozinho já bate!

- Se você não me ajudar. Eu me mato...


domingo, 10 de julho de 2011

Partindo

Marianna querendo colocar as ideias no lugar, resolveu que era hora de dar uma parada estratégica em tudo que estava acontecendo.

Depois de ouvir a declaração de amor de Altair, Marianna ficou muito balançada. Era verão do ano de 2004, quando novamente Marianna iria tirar suas tão merecidas férias anuais. Ao invés de buscar refúgio nas montanhas do Sul de Minas, Marianna escolheu outro roteiro: o Sul da Bahia.


Antes de viajar porém, ela resolveu se despedir de Altair. Assim na última sexta-feira útil antes do Carnaval, Marianna passou na loja.

- Oi Altair como vai?

- Oi Marianna, como você está linda. 

- Eu vim aqui me despedir de você. 

- Como assim, se despedir?

- Eu vou entrar de férias e vou viajar. Minha esperança era que você pudesse viajar comigo.

- Você sabe que eu não posso. Mas você vai voltar, não é mesmo?

- Claro que vou. Estou indo para o Sul da Bahia. Vou visitar minha avó.

- Você vai sozinha?

- Vou com meu filho e com minha irmã. Viajamos hoje à noite.

- Já estou imaginando, em pleno Carnaval, uma rockeira na Bahia.

- Estou levando meus CDs. Vou começar ouvindo Megadeth e matar os baianos de raiva. O trio elétrico passando e eu com meu rock tocando no "talo".


- Não se esqueça de mim. 

- Eu preciso dar um tempo para refletir. Vou aproveitar e curtir meu filhote um pouco, ele vai fazer três anos e eu trabalho tanto, que quase nem tenho tempo de ficar com ele.

- Boa viagem então.

Altair segurou Marianna pela cintura e a beijou longamente. O simples contato com ele, deixava Marianna toda arrepiada.

- Até a volta Altair.

- Até Marianna.

O resto do dia passou voando, Marianna já tinha levado sua mochila para o trabalho. Às dezoito horas, bateu seu ponto e foi para a rodoviária se encontrar com sua irmã Regina. Ao invés de se espremer num ônibus, como fazia todas as tardes, resolveu descer a pé. Seu ônibus partiria às vinte e três horas, teria tempo de sobra. O dia ainda estava claro e o abafado, o trânsito como sempre engarrafado. Parecia que todos os mineiros iriam viajar naquele Carnaval.

Uma semana longe de Altair, seria tempo suficiente para descobrir se realmente gostava dele, ou se tudo não passava de mais uma grande ilusão.

Ao chegar na Rodoviária, Marianna se assustou com a quantidade de pessoas que se espremiam, em busca de passagens na última hora.


Era uma espécie de formigueiro humano, pessoas iam e vinham com malas nas mãos. Marianna com muita dificuldade, passou em uma lanchonete e comprou pão de queijo para comer na viagem. Em seguida, foi para uma livraria, folear livros para passar o tempo, aproveitou e comprou uma revista de palavras cruzadas. Marianna se dirigiu para a plataforma de embarque e tentou se concentrar em sua revistinha. 

Marianna tinha 25 anos e sua irmã 22. Era praticamente um milagre, a Mãe deixar a irmã viajar sozinha com Marianna. Aquela semana seria uma boa oportunidade de se aproximar novamente de Regina. Como todas irmãs, elas tinham suas diferenças, mas o sangue falava mais alto. Marianna sempre viu Regina, como uma cópia em versão menor da Mãe. Sempre autoritária e querendo ditar todas as regras. No fundo Regina era apenas mais uma jovem insegura, que escondia-se atrás de uma falsa máscara de superioridade.

Pouco tempo depois, Marianna avistou Regina, trazendo Bruce pela mão.

- Oi meu filhinho, sentiu saudades da Mamãe?

Ao que Bruce respondeu um monte de palavras soltas indecifráveis próprias para uma criança de sua idade.

- Animada para a viagem Regina?

- Nem me fale, Marianna, mas antes eu preciso te contar uma coisa.

- Nossa Regina você está pálida. Você está passando bem?

- Você precisa me ajudar!

- Fale logo, você está me assustando.

- Eu estou grávida.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sentimentos

- É isso mesmo que você ouviu: Eu amo você Marianna.

Naquele instante, o mundo pareceu parar. A música eletrônica parou. As pessoas ao redor ficaram mudas. Marianna digeriu a frase que Altair falou. Sorveu cada palavra, como uma pessoa perdida no deserto bebe água. Como um afogado, anseia por ar para respirar.

- Amor é uma palavra muito séria. Amar alguém, significa se entregar. Abrir mão de tudo. Você estaria disposto em largar tudo para ficar comigo. Largar o conforto da Zona Sul e ir morar na roça? Largar sua esposa rica e linda e ficar comigo, que nem tenho dinheiro.

- Linda você também é Marianna. E você me faz muito feliz.

Marianna não sabia se deveria acreditar nas palavras doces de Altair. Marianna também não sabia se o amava, assim como ele dizia que a amava. Sabia que era bom estar com ele. Sabia também que diversas vezes ela já tinha 'quebrado a cara' e se estrepado. Mas a vida é feita de tentativas. Se Marianna não tentasse, jamais saberia se daria certo ou não. Na cabeça de Marianna, o tempo caminhava veloz e ligeiro. Ela se sentia como uma pessoa velha, prestes a morrer. E não tinha mais tempo a perder, assim como na música 'Go back' dos 'Paralamas do Sucesso'. 

- Altair eu preciso ir. O Danilinho está me esperando. Eu falei com ele que ia no banheiro.

- Mas antes me dê um beijo.

Altair então agarrou Marianna e lhe beijou.

- Você deve estar louco. E se a sua mulher pega a gente?

- Essa adrenalina, faz com que o beijo se torne melhor.

Marianna deixou Altair e foi em busca de seu amigo Danilinho.

- Nossa Marianna, você demorou no banheiro.

- É porque a fila estava grande. Vamos embora.

- Embora para casa? Mas nós acabamos de chegar. E o show? Nós vamos perder?

- Esse Mercado Mundo Mix, já deu o que tinha que dar para mim.

- Tudo bem então Marianna, você é quem manda. Mas hoje é sábado e ainda está cedo. Faz tanto tempo que não saímos juntos. Vamos para outro lugar então?

- O que você sugere?

- Eu conheço um barzinho muito maneiro, onde toca MPB e tem uma cerveja estupidamente gelada. É só a gente pegar o metrô.


- Ok Danilinho. Você venceu. Vamos lá. Um dia eu te conto, porque eu resolvi ir embora assim de supetão. 

- Se você não quer contar tudo bem. Com certeza você deve ter um bom motivo.

- E bota bom motivo nisso! Não quero te perturbar com meus problemas. Vamos falar de coisa boa pra variar! Você já ouviu aquele CD...