Parado em frente a banca de revistas, Altair distribua panfletos da loja. Marianna parou bem em frente a ele:
- Oi Altair, tudo bem?
- Oi Marianna, quanto tempo...
- Você cortou os cabelos...
Falou Marianna enquanto passava a mão nos cabelos curtos de Altair.
- Não teve um dia em que eu não pensasse em você. Todos os dias eu olhava, ansiosa para a janela sempre fechada, na esperança de te ver. Você sumiu...
- Naquela fatídica noite de quarta-feira eu fui assaltado: levaram todos os meus documentos. Tive que vender minha coleção do Pink Floyd para comprar a passagem e ir embora. Eu estava na roça, na casa dos meus avós. Cortei o cabelo porque eu estava trabalhando na lavoura e não tinha tempo para cuidar deles. Altair havia envelhecido muito naquele curto período de tempo.
- Eu não acredito que você se desfez dos discos. Agora eu não vou poder quebrá-los assim como na música do Raul "Tú és o M.D.C da minha vida"...
- O Raul tem outras tantas músicas melhores. Tem uma que eu decorei e escrevi num papelzinho para te dar: "Coisas do coração", você conhece? Toma.
Altair tirou um pedaço de papel verde do bolso e entregou à Marianna. O bilhete estava escrito a mão, a letra era linda e redondinha:
"Quando a gente se tornar rima perfeita
E assim virarmos de repente uma palavra só
Igual a um nó que nunca se desfaz
Famintos um do outro como canibais
E assim virarmos de repente uma palavra só
Igual a um nó que nunca se desfaz
Famintos um do outro como canibais
Paixão e nada mais!
Paixão e nada mais!"
Paixão e nada mais!"
- Sua letra é tão redondinha, parece letra de mulher. Eu li uma vez em algum lugar, que quem tem letra bonita, tem personalidade forte.
- Eu tentei ser forte e nunca mais te procurar. Mas a verdade é que nesse tempo em que eu estive longe, também pensei muito em você. Continuou Altair.
- Mas você não me procurou, foi eu que achei você!
- Não era assim que eu queria que fosse. Eu queria me reestruturar para te procurar, porque você é a única mulher que eu amei. Apenas dei um tempo para você pensar em tudo que aconteceu. As coisas entre a gente aconteceram depressa demais.
Ao ouvir Altair dizer que a amava Marianna estremeceu, seu coração bateu mais acelerado e ela mal conseguia ficar em pé.
- Não teve um único dia, em que eu não me arrepende-se, de não ter pedido para você ir lá para casa. E agora eu encontro você aqui parado na rua, distribuindo panfletos da loja da "Duquesa das Alagoas"...
- Não fale dela assim...
- Mas você está aqui trabalhando para ela...
- Se você quer saber a verdade eu não voltei pra ela, nós estamos apenas trabalhando juntos.
- Você não me deve satisfações da sua vida. Naquela noite quando você me ligou, se você tivesse ido lá pra casa, não haveria assalto, nem cabelo cortado. Se você não quiser mais me ver eu vou entender...
- Acho que foi você, quem não entendeu nada. Eu amo você Marianna, de verdade. Eu quero ficar com você sim, se você ainda me quiser...
Altair deixou todos os panfletos caírem e abraçou Marianna, que emocionada começou a chorar.
- Seus olhos ficam mais verdes ainda quando você chora. Minha morena de olhos verdes, não chore.
Altair beijou Marianna com doçura e ternura.
- Eu nunca mais vou deixar você partir Altair, nunca! Prometeu Marianna.