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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Acertando os ponteiros

Parado em frente a banca de revistas, Altair distribua panfletos da loja. Marianna parou bem em frente a ele:

- Oi Altair, tudo bem?

- Oi Marianna, quanto tempo...

- Você cortou os cabelos...

Falou Marianna enquanto passava a mão nos cabelos curtos de Altair. 

- Não teve um dia em que eu não pensasse em você. Todos os dias eu olhava, ansiosa para a janela sempre fechada, na esperança de te ver. Você sumiu... 

- Naquela fatídica noite de quarta-feira eu fui assaltado: levaram todos os meus documentos. Tive que vender minha coleção do Pink Floyd para comprar a passagem e ir embora. Eu estava na roça, na casa dos meus avós. Cortei o cabelo porque eu estava trabalhando na lavoura e não tinha tempo para cuidar deles. Altair havia envelhecido muito naquele curto período de tempo.

- Eu não acredito que você se desfez dos discos. Agora eu não vou poder quebrá-los assim como na música do Raul "Tú és o M.D.C da minha vida"...


- O Raul tem outras tantas músicas melhores. Tem uma que eu decorei e escrevi num papelzinho para te dar: "Coisas do coração", você conhece? Toma. 

Altair tirou um pedaço de papel verde do bolso e entregou à Marianna. O bilhete estava escrito a mão, a letra era linda e redondinha:

"Quando a gente se tornar rima perfeita
E assim virarmos de repente uma palavra só
Igual a um nó que nunca se desfaz
Famintos um do outro como canibais
Paixão e nada mais!
Paixão e nada mais!"
- Sua letra é tão redondinha, parece letra de mulher. Eu li uma vez em algum lugar, que quem tem letra bonita, tem personalidade forte.

- Eu tentei ser forte e nunca mais te procurar. Mas a verdade é que nesse tempo em que eu estive longe, também pensei muito em você. Continuou Altair.

- Mas você não me procurou, foi eu que achei você!

- Não era assim que eu queria que fosse. Eu queria me reestruturar para te procurar, porque você é a única mulher que eu amei. Apenas dei um tempo para você pensar em tudo que aconteceu. As coisas entre a gente aconteceram depressa demais.

Ao ouvir Altair dizer que a amava Marianna estremeceu, seu coração bateu mais acelerado e ela mal conseguia ficar em pé.


- Não teve um único dia, em que eu não me arrepende-se, de não ter pedido para você ir lá para casa. E agora eu encontro você aqui parado na rua, distribuindo panfletos da loja da "Duquesa das Alagoas"...

- Não fale dela assim...

- Mas você está aqui trabalhando para ela...

- Se você quer saber a verdade eu não voltei pra ela, nós estamos apenas trabalhando juntos.

- Você não me deve satisfações da sua vida. Naquela noite quando você me ligou, se você tivesse ido lá pra casa, não haveria assalto, nem cabelo cortado. Se você não quiser mais me ver eu vou entender...



- Acho que foi você, quem não entendeu nada. Eu amo você Marianna, de verdade. Eu quero ficar com você sim, se você ainda me quiser...

Altair deixou todos os panfletos caírem e abraçou Marianna, que emocionada começou a chorar.

- Seus olhos ficam mais verdes ainda quando você chora. Minha morena de olhos verdes, não chore. 

Altair beijou Marianna com doçura e ternura.

- Eu nunca mais vou deixar você partir Altair, nunca! Prometeu Marianna.

sábado, 3 de setembro de 2011

Depois do Pesadelo

Marianna queria muito Altair, mas não estava preparada para morar com ele. Não ainda.

A verdade é que ela tinha receio de estar se precipitando novamente. Afinal de contas, ela morava sozinha com o filho Bruce. E depois do pesadelo psicodélico em que a "Duquesa das Alagoas", afirmava que Altair era um psicopata, Marianna recuou.


- Ei Marianna, você está me ouvindo?

- Estou Altair. Fica calmo, o que aconteceu? 

- Nós brigamos, eu saí de casa.

- Mas está chovendo. Que horas são agora?

- Meia noite e eu não tenho para onde ir.

Será que ele ligou para Marianna apenas para conseguir um lugar para ficar? Será que ele realmente gostava de Marianna, ou estava apenas usando-a? Era um preço muito alto que Marianna teria que pagar para saber a resposta. Era a sua segurança e a de seu filho que estavam em jogo.

- Você não deveria ter feito isso. Você está de cabeça quente. Tentou contornar Marianna.

- Eu fiz isso tudo por você Marianna.

- Me liga amanhã. Eu tenho que dormir. Você se esqueceu que eu acordo às cinco.

- Tudo bem. Entendi. Desculpa te incomodar. E desligou o telefone.

Em vão Marianna tentou dormir de novo.

Altair morava próximo da Praça da Liberdade. Pegou sua mala e se dirigiu para lá. Toda sua vida, cabia dentro de uma mala. A praça estava deserta. Era quarta-feira e a garoa teimava em cair.



A sorte parecia que o havia abandonado. Na praça foi assaltado. Um bandido levou todos os seus documentos e seu dinheiro. Restou apenas uma certidão antiga de nascimento, algumas roupas e o que Altair tinha de mais precioso: sua coleção inteira de vinil do Pink Floyd, que estava no fundo da mala. O ano era 2004 e o ladrão nem deveria saber o quanto valia uma coleção daquelas.



Assim que o dia amanheceu, Altair foi até uma loja de discos usados e vendeu todos discos, partiu para a rodoviária e comprou uma passagem para sua Terra Natal, uma cidade no interior de Minas, onde seus avós residiam. 

Marianna ficou muito tempo sem ter notícias de Altair. Ele nunca mais ligou para ela. Todos os dias quando ela chegava ao trabalho, olhava em vão para a janela, agora fechada. Nunca mais seus olhos verdes veriam novamente o "Loirinho dos Passarinhos" fumando naquela janela. Cada dia que Marianna ficava sem ver Altair, era como se ela morresse um pouco a cada dia. Os dias se arrastavam sem ele, sem o seu sorriso. Como Marianna havia sido idiota.

Sua antiga amiga Natasha, convidou Marianna para almoçar em um restaurante árabe que ficava na Avenida Afonso Pena. Marianna que nunca tinha experimentado comida árabe, aceitou o convite.


Depois de conversarem trivialidades, Natasha perguntou:

- Ei Nêga, o que é que há? Você está triste. Para Natasha, todas suas amigas eram "Nêga".

- Acho que eu nunca mais vou ver o Altair. Como eu fui burra Natasha!

- Não se condene Marianna. Pensar dessa forma, não vai trazer o Altair de volta. Por que você não liga para ele?

- Ligar como? Se eu nem tenho o número dele. Nem sei para onde ele foi.

- Talvez a ex dele saiba. Por que você não liga para ela?

- É melhor eu deixar para lá. Muito boa, essa comida árabe. Meu horário de almoço já está quase no fim. Vamos nessa?

No caminho as amigas andavam, Marianna reparou em um outdoor que dizia em letras garrafais:

DIAS MELHORES VIRÃO

- "Dias melhores virão" Nossa que frase forte. Deve ser uma nova campanha publicitária. Ou talvez seja um sinal.

- Marianna, você vê sinais em tudo. Esse seu lado bruxa está cada vez mais forte.

- Se eu pudesse ao menos ver Altair novamente.

- Onde fica a tal loja da ex dele, Marianna?

- Fica bem ali, naquela Rua, onde tem o relógio do sol...

- Ei Marianna, você está pálida, o que houve?

- Me belisca Natasha. É ele.

- Onde Marianna, não estou vendo nenhum loiro cabeludo.

- Ali em frente a banca de revistas. Eu não acredito. Ele cortou o cabelo. Eu vou falar com ele, depois a gente se fala, beijos Natasha.

- Boa sorte Marianna!

O coração de Marianna batia aceleradamente, como será que Altair a trataria?