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sábado, 29 de janeiro de 2011

Ficando

Quantas vezes nos arrependemos das atitudes impensadas que tomamos. E esse arrependimento nos persegue pelo resto da vida? Com Marianna não era diferente.



Quando Marianna saiu da casa de Charlotte e Natasha acompanhada de Carlinhos naquele domingo, não pensou que aquele simples gesto trouxesse consequencias tão graves mais tarde.

- Em que ponto vamos pegar o ônibus Carlinhos? Eu vim de táxi ontem à noite e não faço a mínima ideia de como faremos para chegar na casa do Beto 'Branco'! Perguntou Marianna.

- Estamos no meu 'pedaço' Marianna. Conheço toda essa região, afinal cresci aqui. É melhor irmos a pé. Respondeu Carlinhos.

- Mas não fica longe não? Perguntou Marianna.

- Eu conheço um atalho que em meia hora chegamos lá. É logo ali, vamos andando, deixa de ser preguiçosa menina. Continuou Carlinhos.

Quando um mineiro fala: "É logo ali", prepare-se porque o destino é bem distante.
Marianna sempre achou Carlinhos muito bonito. Ele tinha um corpo perfeito. Apesar de não ter cabelo grande, como Marianna gostava, Carlinhos tinha um traseiro que parecia ser de mulher de tão redondo. Além das inúmeras tatoos espalhadas pelo corpo. Como tatuador ele tinha tantas tatuagens que Marianna não conseguia contar.

Depois de andarem conversando pelo caminho, os jovens iam por uma rua bem íngreme que Marianna tinha dificuldade em subir, em parte porque fumava tanto que não tinha fôlego.


- Me ajuda a subir esse morro Carlinhos. Pediu Marianna.

- Vou empurrar você então. Falou Carlinhos.

Ele segurou Marianna pela cintura e aquele contato tão próximo dos dois, fez Marianna se arrepiar, tamanha era a eletricidade entre eles. Carlinhos percebeu e não perdeu tempo: Virou Marianna de encontro a seu corpo e se beijaram no meio da rua. 

Era domingo cedo, o sol já ia alto e parecia não existir mais ninguém em volta dos dois. Marianna perdeu a noção de quanto tempo beijou Carlinhos. Esqueceu-se de tudo. Esqueceu-se que ele tinha uma namorada muito ciumenta também. Quando o beijo terminou eles não disseram nada e continuaram caminhando até chegarem na casa de Beto 'Branco'.

- Beto! Gritou Carlinhos já entrando pelo portão da casa.

O som estava alto. Beto ouvia 'Lets Dance' do David Bowie.


- Trouxe Marianna aqui. Sua mãe está em casa? Perguntou Carlinhos.

- Minha mãe está na cozinha Carlinhos, vai lá. E aí Marianna, tudo legal? 

- Tirando a caminhada. O resto tá beleza.

- De onde vocês estão vindo? Perguntou Beto.

- Da casa de Natasha e Charlotte, lá no bairro M. Falou Marianna.

- Vocês estão loucos. É longe demais! Falou Beto.

Carlinhos voltou da cozinha e apenas sorriu para Marianna. Eles ficaram a tarde toda na casa de Beto. Conversaram, ouviram música, almoçaram, beberam vinho.

Marianna não tinha ideia do que a esperava quando voltasse para casa...



terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Proposta

Marianna e Charlotte beberam demais naquela noite no Alternativo. Beberam tanto e nunca mais voltaram lá. Até mesmo porque, o bar não teve vida longa e fechou pouco tempo depois. Não por má administração de Michael e Danilo e sim por falta de segurança. O bar foi roubado duas vezes na mesma semana. Um dia os ladrões levaram o aparelho de som e grande parte do estoque, principalmente bebidas quentes como whisky, conhaque entre outras. No dia seguinte, após o primeiro roubo, os sócios compraram um novo som, dessa vez mais potente (financiado em ‘n’ prestações) e abasteceram novamente o bar. No segundo roubo, os assaltantes limparam o Alternativo, levando tudo o que conseguiram carregar. Então a única alternativa para o Alternativo, foi fechar as portas.


Continuando, Marianna e Charlotte saíram do bar e pegaram um ônibus, por volta de meia noite e meia. Desceram próximo do Bar onde Natasha (irmã de Charlotte) trabalhava como garçonete. Marianna perguntou as horas e descobriu que faltava pouco menos de vinte minutos, para que o último ônibus que a levaria para casa passasse. No entanto assim que pisaram no Bar Charlotte começou a passar mal.

- Natasha, eu estou muito ruim. Falou Charlotte.

- O que vocês beberam lá Marianna? Perguntou Natasha.

- Os rapazes fizeram um coquetel chamado de “perereca”, me parece que era suco de maracujá, com leite condensado e pinga. Tomamos cerveja também. Respondeu Marianna.

Charlotte não falava mais coisa com coisa e Marianna sentiu que a culpa era um pouco dela também. Assim, Natasha chamou um táxi e Marianna se ofereceu para ir junto. No rádio do táxi tocava uma música dos Smiths: "Heaven Knows I'm Miserable Now".


Marianna dormiu na casa das meninas e no outro dia cedo resolveu ir para casa. Ligou para sua mãe para avisá-la de onde tinha passado a noite e que já estava a caminho (o ano era 1997 e com a privatização das Teles, qualquer mortal já podia ter uma linha telefônica).

Quando se preparava para ir embora, alguém bateu na porta. Quem poderia ser, em pleno domingo cedo, talvez algum evangélico pregando? Inesperadamente surge Carlinhos, o tatuador.

- Bom dia a todas! Eu sabia que você estava aqui Marianna! Falou Carlinhos.

- Você estava me procurando? Respondeu Marianna.

- Liguei para sua casa e sua mãe respondeu muito mal humorada, que você tinha dormido aqui. Falou Carlinhos.

- Minha mãe não vai com sua cara desde o dia que você me tatuou, quando eu fiz 18 anos, mas o que você quer comigo? Falou Marianna.

- Acontece que minha namorada está louca atrás de você. Ela cismou que você está me apresentando um monte de meninas...Continuou Carlinhos.

- ‘Pera’ lá. Foi VOCÊ quem me apresentou Natasha e Charlotte e não o contrário. Respondeu Marianna. Ela deu tanta ênfase no você, que Carlinhos se assustou.

- Sabe de uma coisa Carlinhos, como amiga eu te falo: sai fora dessa mulher...Falou Natasha.

- Concordo com minha irmã, ela nem conhece a gente. Até parece que íamos querer alguma coisa com você. Afinal você é nosso amigo. Falou Charlotte ainda de mau humor por causa da ressaca.

- Eu vim aqui também para te chamar para ir lá na casa do Beto ‘Branco’. Falou Carlinhos.

- Não sei não, eu dormi fora e avisei que já estava indo para casa. E também não quero arrumar encrenca para o meu lado. Já não basta a louca da mulher do Beto ‘Preto’. Falou Marianna.

- A gente passa lá rapidinho Marianna! Vamos por favor. Insistiu Carlinhos.

Carlinhos olhou para Marianna com um olhar tão persuasivo, como se quisesse dizer algo que Natasha e Charlotte não poderiam escutar, que ela se deu por vencida.


- Tudo bem! Você venceu, vamos então! Meninas, muito obrigada por tudo e me desculpem qualquer coisa. Charlotte te cuida. Até mais. Disse Marianna.

E saiu com Carlinhos...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Alternativo

Marianna está em pé com um pequeno papel nas mãos, nele está escrito o endereço do Bar Alternativo que Danilo lhe deu. Marianna coça a cabeça preocupada, já que diante de seus olhos não existe bar nenhum. O que ela vê é apenas uma pequena porta de aço dessas de casa mesmo.


Indecisa ela olha para Charlotte, esta acredita ter entrado em uma "roubada":

- Não é possível! Este endereço deve estar errado... Falou Marianna.

- O pior é que não existe nenhuma casa por perto, para que possamos pedir informação. É melhor a gente ir embora, esse bairro é muito deserto. Falou Charlotte.

O bairro em que as duas estavam, era e ainda é um bairro industrial, repleto de galpões. Não havia muitas residências naquelas redondezas.

Nesse instante a pequena porta de aço se abre e Michael surge:

- Pensei que você não vinha mais Marianna! Falou Michael.

- E nós já íamos embora, Michael. Esta é minha 'chegada' Charlotte. Respondeu Marianna.

- Muito prazer Michael. Agora vamos ficar aqui fora ou podemos terminar essa conversa tomando alguma coisa? Perguntou Charlotte rindo.

- Entrem por favor e conheçam o Alternativo! Falou Michael, com um certo ar de mistério .

Eles entraram e logo viram um corredor a esquerda, onde ficavam mesas feitas com bobinas de fios elétricos  (bobinas grandes de madeira provenientes das companhias de energia elétrica), os bancos dessas mesas eram constituídos por três pneus de empilhados cada um (eles eram 'cheios' de concreto) e o assento era feito de almofadas de retalhos.

Continuando Marianna viu meio que incrédula o primeiro cômodo da casa, onde ficavam as mesas para casais, mas não eram simples mesas. Estas foram confeccionadas com madeira de demolição. Os bancos possuíam o encosto alto para manter a privacidade dos apaixonados.

No cômodo seguinte ficava o balcão de atendimento: Feito de alvenaria, com cacos de espelhos colados no reboco. Os bancos do balcão eram feitos de tubos de ferro chumbado no chão e rodas de Brasília soldadas no alto, também com almofadas de retalho em cima das rodas.

A parede que dividia o cômodo dos casais e o recinto do balcão não tinha porta. Havia um arco feito de mangueiras amarelas de construção, uma parede cheia de colagem de tirinhas de jornais e um pouco acima um alvo de dardo. Para completar a decoração: uma máquina de pinball.



Tanto Marianna quanto Charlotte estavam maravilhadas com a criatividade dos sócios.

- Ei Marianna, que tal uma 'perereca'? Falou Danilo atrás do balcão.

- Antes de mais nada, quero te apresentar Charlotte. Em segundo lugar o que vem a ser essa perereca Danilo? Perguntou Marianna.

- Isso aqui é uma bebida feita com maracujá, leite condensado e cachaça. Mas a cachaça tem que ser a pior que você conseguir. De preferência aquela que você compra o casco e ganha o líquido. Michael foi quem falou dessa vez. Já que foi ele quem batizou a 'perereca'.


Como não havia divulgação, a não ser aquela boca-a-boca o Alternativo não estava muito cheio, no máximo quinze pessoas estavam lá. O que era perfeito para que todos pudessem conversar à vontade. 
Nesse instante Danilo colocou um CD com a música da Cyndi Lauper: "Girls just wanna have fun". Muito sugestiva para aquela noite, diga-se de passagem.  


Marianna e Charlotte beberam 'todas': Misturaram 'perereca' com cerveja. Marianna deve ter fumado um maço de cigarro em poucas horas que ali ficou. Charlotte não fumava. O duro era pensar como iam chegar em casa....




sábado, 15 de janeiro de 2011

Amigas

Estamos ainda em 1997. Além de Beto 'Preto' e Beto 'Branco', amigos com os quais Marianna nunca ficou. Frequentava também a Feirinha, outros dois rapazes que fizeram parte da história de Marianna:
Michael e Danilo. Ao contrário dos Betos que faziam o estilo dark, ambos iam mais pela linha headbanger: cabelos longos, anelados e despenteados. Parecia até que eram irmãos, tamanha a semelhança física. Com a diferença que Michael era mais alto. Eles só não tinham tatoos. Michael trabalhava com o irmão em uma pequena fábrica de silk. Já Danilo, trabalhava em um escritório de uma distribuidora de alho e cebola na Central de Abastecimento da cidade.


Marianna sempre teve uma 'quedinha' por tipos cabeludos. Ela até que andou ficando com Michael, mas nada muito sério. Sua amiga Margarida também preferia os cabeludos. Margarida conheceu Júlio, um cara cabeludo que se parecia demais com Joey Ramone e que coincidentemente morava no mesmo bairro do tatuador Carlinhos. 


Então com o namoro de Margarida com Júlio, Marianna se viu sem a sua mais fiel companheira.

Michael e Danilo compraram um bar e o batizaram de "Alternativo", porque tudo lá dentro era feito de material reciclável. Só tocava 'rock and roll' no Bar e Marianna estava doida para ir lá. Mas sozinha ficava difícil. 

Foi então que Marianna conheceu duas jovens, que vieram não para ocupar o lugar de Margarida, mas para preencherem o coração sedento de afeto que Marianna tinha. Esse outro lugar que até hoje ainda é delas.

Charlotte e Natasha foram apresentadas para Marianna por Carlinhos, que também as tatuou, é claro! Charlotte sempre foi a moça mais linda que Marianna conheceu. Baixinha, 1,55 aproximadamente, pele branca, cabelos negros e compridos e um sorriso lindo, no braço uma tatto de orquídea ainda inacabada. Natasha era loira (de farmácia) , cabelos curtos, um corpo escultural, que fazia qualquer marmanjo babar. Natasha adorava dançar, não podia ouvir uma música  de que gostasse muito e  já se levantava. Já Charlotte era mais quieta, preferia ficar só trocando ideia. Ela e Marianna conversavam sobre todo e qualquer tipo de assunto.

- Charlotte e Natasha, são nomes muito incomuns. Falou Marianna.

- Nossa mãe adora ver filmes antigos. Sabe quando acaba o filme e começa a passar os nomes das personagens e dos atores? Perguntou Charlotte.

- Sei. Respondeu Marianna.

- Então nossos nomes foram tirados de filmes antigos, mas nem pergunte quais filmes, porque nem nossa mãe se lembra. Continuou Charlotte.


- E qual o nome da mãe de vocês? Perguntou já curiosa Marianna.

- O nome dela também é Marianna. Dessa vez quem falou foi Natasha. 

- Que legal! Falou Marianna.

- Nossa mãe é uma figura, no bom sentido é claro. Continuou Natasha.

- É uma pena que eu não possa dizer o mesmo, mas vamos falar de coisa boa: Eu sei que a gente está se conhecendo agora.  Mas é que eu tenho dois 'chegados' que abriram um barzinho onde só toca rock e queria chamar vocês para irem comigo no próximo sábado. Que tal? Perguntou Marianna.

- A Charlotte pode ir, mas eu trabalho à noite toda como garçonete. Respondeu Natasha.

- Minha carreira de garçonete durou apenas uma noite. Falou Marianna.

- Se eu puder levar um CD da Janis para tocar lá... Falou Charlotte. 

- Acho que os meninos vão tocar com o maior prazer. Respondeu Marianna. 






terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Barraco

Mariannna combinou com Margarida, para juntas irem no churrasco na casa de Beto 'Preto'. Para sua sorte, Fernando não estaria lá. Isso tornaria as coisas mais fáceis: Depois que terminou com ele, era difícil para ela vê-lo novamente.

Beto 'Preto' morava em outro bairro, para chegar até sua casa era necessário que as amigas  pegassem dois ônibus. Mas os tempos eram difíceis, então elas resolveram andar a pé o trajeto do segundo ônibus, para economizarem a 'grana' da passagem. Parte do trajeto a pé, incluía uma  caminhada ao longo de uma linha férrea. 


No caminho Margarida contou para Marianna um pouco mais sobre a vida de Beto 'Preto' e de Beto 'Branco'. Eles tinham muito em comum. Ambos, apesar de terem somente vinte e três anos, já tinham filhos e não eram casados. Eles bem que tentaram morar junto com as respectivas namoradas, mas não deu certo. Desde então, apenas contribuíam com uma pensão para os meninos.

Beto 'Branco' tinha dois filhos e Beto 'Preto' tinha um. Beto 'Preto' trabalhava duro em uma empresa. Ao contrário de Beto 'Branco', que não parava em emprego nenhum, porque sempre arrumava uma briga. Mas seus pais possuíam alguns barracões de aluguel, então sua situação era mais cômoda.

Assim que chegaram, a festa já estava animada. A carne rolando solta, as garrafas com vinho passando de mão em mão e a música tocando: 'Friday I'm in love" do The Cure. Tanto Beto 'Preto', quanto Beto 'Branco', faziam o estilo dark. Isso incluía os cabelos espetados e a maquiagem carregada. Apesar de serem homens.


Havia muitas pessoas lá que Marianna não conhecia. A mãe e as irmãs de de Beto 'Preto' trataram Marianna e Margarida muito bem. Tanto que ofereceram um quarto para as duas dormirem, assim elas não teriam que ir embora tarde da noite sozinhas depois da festa.

Lá pela meia-noite a ex-namorada e também mãe do filho de Beto 'Preto' apareceu:

- Que bonito Beto. Leite para seu filho você não compra, mas encher a casa de gente e pagar churrasco para todo mundo você sabe. Falou a ex, já bêbada.

- Cê tá louca?! Me fala o dia que eu deixei de comprar alguma coisa para o nosso filho! Respondeu Beto. 

Mas não teve jeito moça armou o maior 'barraco': gritou, xingou e ameaçou ferir Beto 'Preto' com uma garrafa.  

Ela cismou que Marianna estava ficando com Beto 'Preto'. Quando na realidade, ele sempre 'arrastou uma asa' para o lado de Margarida, isso sim! 

Com muito custo Beto 'Preto' conseguiu acalmá-la. O único que parecia não ligar era Beto 'Branco', que já estava bem bêbado também.

Depois da briga, a festa acabou. Marianna achou tudo aquilo muito ruim, pois se lembrou das brigas que sua mãe tinha com a antiga namorada Soraia.

Insistiu com Margarida para irem embora. Mas a amiga se recusou, então ela aceitou a oferta da mãe de Beto 'Preto' e foi dormir. Onde já se viu, com tanto rapaz solteiro, livre e desimpedido no mundo. Marianna ia logo se interessar por um que já tinha filho. Tudo o que Marianna queria era dar um tempo para si mesma para tentar esquecer Fernando.



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Betos

Pensamentos confusos povoavam a cabeça de Marianna. Ela ainda gostava muito de Fernando, mas voltar atrás não era do seu feitio. Ela pensava que se não tinha dado certo uma vez, se voltasse atrás e reatasse, as coisas nunca mais seriam como foram um dia. Assim como uma xícara que se quebra e que não pode ser colada.

Boa parte do ciúme exagerado que ela sentia, poderia ser facilmente explicado pela relação com sua mãe. Para ela nenhum amigo de Marianna prestava, nenhum namorado estava à altura de sua filha. Na cabeça louca da genitora, somente o relacionamento de Marianna com pessoas de um nível social mais alto, poderia ser aceito. Infelizmente Marianna herdara o mesmo ciúme doentio de sua mãe, porém com menor intensidade. É como naquela música de Belchior, imortalizada na voz de Elis Regina: "Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais..."


O ano era 1997. Depois que terminou com Fernando, Marianna não sabia bem como agir. Na primeira vez que foi à Feirinha, logo após o fim do namoro, ela se encontrou com 'Anjinho', namorado de Daniela. Eles começaram a conversar sobre música, sentaram-se no meio fio e começaram a cantar.

Nesse instante Daniela chegou e Marianna sentiu uma certa frieza por parte dela. Jamais passaria na cabeça de Marianna dar em cima de 'Anjinho', mas Daniela a tratou dessa forma, mais por estar comovida com a tristeza de Fernando do que por ciúmes. Ao contrário de Marianna, Daniela confiava no seu "taco", prova disso é que os dois se casaram e vivem juntos até hoje.


Marianna não queria nem ouvir falar de Fernando, assim ela se afastou do casal e encontra logo a frente num grupinho bem animado, sua antiga amiga Margarida conversando com os dois Betos:

Beto 'Branco' e Beto 'Preto'. Os inseparáveis. Onde estava um, estava o outro. Ao contrário do que qualquer desavisado possa pensar, eles não tinham o mesmo nome Beto 'Branco' era Roberto e Beto 'Preto' era Felizberto. Beto 'Branco' era claro, cabelos lisos, um pouquinho acima do peso, ostentava em ambos os braços tatoos feitas por Carlinhos, o tatuador oficial da galera. Beto 'Preto' era negro, magrinho, com os cabelos bem crespos e um bigodinho ralo, ambos só andavam de boné e com as calças rasgadas. Companheiros de noitada, rock  e 'goró'. 

- Então finalmente você resolveu aparecer Marianna! Falou Margarida.

- Eu nunca desapareci Margarida, você é que estava me evitando. Respondeu Marianna.

- É normal quando uma pessoa começa a namorar, se afastar dos antigos amigos, mas você arrumou novos amigos não é mesmo? Nem se lembra mais de mim. Agora que você terminou com Fernando podemos...

- Quem te falou que eu terminei com ele? Indagou Marianna.

- A Feirinha inteira sabe, as notícias correm. Bem, como eu estava dizendo, vai rolar um churrasco na casa do Beto 'Preto', você quer ir? Perguntou Margarida.


- Que dia? Continuou Marianna.

- Vai ser no próximo sábado Marianna. Aí é bom que você toma todas e termina de afogar suas mágoas. Brincou Beto 'Branco'.

- "Mi casa es su casa" lindinha, onde os amigos são sempre bem vindos. Vai ser meu aniversário, se quiser ir é só levar duas garrafas de vinho. Falou pela primeira vez Beto 'Preto'.

- Então no sábado, estarei lá...