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domingo, 2 de outubro de 2011

Ao som do rock and roll, despeço-me. Debaixo de um pé de amora...

De fato Marianna e Altair estão juntos até hoje. Eu não poderia dizer que eles viveram felizes para sempre, porque o "pra sempre, sempre acaba".


Em junho de 2004, Marianna finalmente conseguiu tirar sua CNH. Depois de mais de 80 aulas e dois "paus". Antes de conseguir comprar seu carro, Marianna dirigiu muito os veículos da empresa. Dessa forma, estava sempre treinando. No rádio do carro, Marianna ouvia e cantava "Infinita Highway". Marianna até hoje dirige cantando.


Em 2005 Marianna abandonou o Coven e toda aquela história de Wicca. No Coven, as pessoas estavam mais preocupadas em mostrar seus pentagramas para os outros e não levavam nenhum estudo a sério. Marianna deixou de lado "sua bola de cristal e aquele incenso do Nepal, que ela comprou num camelô".


Em 2007 Marianna usou seu FGTS para abater o saldo devedor da sua casa. Altair juntou mais dois mil reais, que recebeu do acerto da empresa onde trabalhava, e juntos quitaram a casa. No mês de julho, Marianna e Altair compraram (em sessenta suaves prestações) um carro que avisa que vai chover: um celta preto.


Em dezembro de 2008, Marianna levou Altair para conhecer São Thomé das Letras. Resolveram ficar em um camping. Choveu tanto no camping e a barraca ficou toda molhada. Passaram a noite de Natal dentro do carro.

Nove meses depois, em setembro de 2009, Marianna foi submetida a uma cesariana. Marianna deu a luz a uma linda menina a quem chamaram de Sofia. Altair estava lá e acompanhou o parto de perto. Aprendeu a trocar fraldas e fazer mamadeira. Sofia acordava de noite e Marianna cantava "Cry baby", para Sofia dormir.


Em fevereiro de 2010 Marianna começou o curso de Administração através do EAD (Ensino a distância). A internet que muitos acham que só se destina a práticas ilegais, representa na vida de Marianna, a chance de conseguir seu tão sonhado Curso Superior.

Em agosto daquele mesmo ano, o pai de Marianna faleceu vítima de um linfoma. Marianna chegou ao hospital vinte minutos depois do pai partir. Foi a maior dor que Marianna teve na vida. O pai que sempre incentivou Marianna em tudo, nunca mais poderia apoiá-la. Por mais tempo que passe, Marianna jamais poderá esquecê-lo.

Marianna e Altair criam Bruce e Sofia ao som do rock and roll. Bruce hoje tem dez anos e Sofia dois. Os irmãos adoram "bater cabeça" ao som de "Rock and roll all night".



Existe um ponto forte em Marianna. Hoje ela não teme viver só, porque sabe que todos morrem sozinhos. Por isso ela vive cada dia, como se ele fosse único.



Amanhã dia 3 de outubro meu blog completa um ano. Um ano que escrevo a história de Marianna. Existe um pouco de Marianna em cada um. Marianna. Maria. Anna. Beatriz. Em cada pessoa que luta, sorri, sofre, chora. Porque simplesmente, não se acomoda. E corre atrás do que quer. Obrigada a todos vocês que me acompanharam até aqui. Não vou citar nomes, porque poderia me esquecer de alguém. Aos que me seguem, aos que comentam e aos que simplesmente visitam e vão sem deixar vestígios. Debaixo de um pé de amora...



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Acertando os ponteiros

Parado em frente a banca de revistas, Altair distribua panfletos da loja. Marianna parou bem em frente a ele:

- Oi Altair, tudo bem?

- Oi Marianna, quanto tempo...

- Você cortou os cabelos...

Falou Marianna enquanto passava a mão nos cabelos curtos de Altair. 

- Não teve um dia em que eu não pensasse em você. Todos os dias eu olhava, ansiosa para a janela sempre fechada, na esperança de te ver. Você sumiu... 

- Naquela fatídica noite de quarta-feira eu fui assaltado: levaram todos os meus documentos. Tive que vender minha coleção do Pink Floyd para comprar a passagem e ir embora. Eu estava na roça, na casa dos meus avós. Cortei o cabelo porque eu estava trabalhando na lavoura e não tinha tempo para cuidar deles. Altair havia envelhecido muito naquele curto período de tempo.

- Eu não acredito que você se desfez dos discos. Agora eu não vou poder quebrá-los assim como na música do Raul "Tú és o M.D.C da minha vida"...


- O Raul tem outras tantas músicas melhores. Tem uma que eu decorei e escrevi num papelzinho para te dar: "Coisas do coração", você conhece? Toma. 

Altair tirou um pedaço de papel verde do bolso e entregou à Marianna. O bilhete estava escrito a mão, a letra era linda e redondinha:

"Quando a gente se tornar rima perfeita
E assim virarmos de repente uma palavra só
Igual a um nó que nunca se desfaz
Famintos um do outro como canibais
Paixão e nada mais!
Paixão e nada mais!"
- Sua letra é tão redondinha, parece letra de mulher. Eu li uma vez em algum lugar, que quem tem letra bonita, tem personalidade forte.

- Eu tentei ser forte e nunca mais te procurar. Mas a verdade é que nesse tempo em que eu estive longe, também pensei muito em você. Continuou Altair.

- Mas você não me procurou, foi eu que achei você!

- Não era assim que eu queria que fosse. Eu queria me reestruturar para te procurar, porque você é a única mulher que eu amei. Apenas dei um tempo para você pensar em tudo que aconteceu. As coisas entre a gente aconteceram depressa demais.

Ao ouvir Altair dizer que a amava Marianna estremeceu, seu coração bateu mais acelerado e ela mal conseguia ficar em pé.


- Não teve um único dia, em que eu não me arrepende-se, de não ter pedido para você ir lá para casa. E agora eu encontro você aqui parado na rua, distribuindo panfletos da loja da "Duquesa das Alagoas"...

- Não fale dela assim...

- Mas você está aqui trabalhando para ela...

- Se você quer saber a verdade eu não voltei pra ela, nós estamos apenas trabalhando juntos.

- Você não me deve satisfações da sua vida. Naquela noite quando você me ligou, se você tivesse ido lá pra casa, não haveria assalto, nem cabelo cortado. Se você não quiser mais me ver eu vou entender...



- Acho que foi você, quem não entendeu nada. Eu amo você Marianna, de verdade. Eu quero ficar com você sim, se você ainda me quiser...

Altair deixou todos os panfletos caírem e abraçou Marianna, que emocionada começou a chorar.

- Seus olhos ficam mais verdes ainda quando você chora. Minha morena de olhos verdes, não chore. 

Altair beijou Marianna com doçura e ternura.

- Eu nunca mais vou deixar você partir Altair, nunca! Prometeu Marianna.

sábado, 3 de setembro de 2011

Depois do Pesadelo

Marianna queria muito Altair, mas não estava preparada para morar com ele. Não ainda.

A verdade é que ela tinha receio de estar se precipitando novamente. Afinal de contas, ela morava sozinha com o filho Bruce. E depois do pesadelo psicodélico em que a "Duquesa das Alagoas", afirmava que Altair era um psicopata, Marianna recuou.


- Ei Marianna, você está me ouvindo?

- Estou Altair. Fica calmo, o que aconteceu? 

- Nós brigamos, eu saí de casa.

- Mas está chovendo. Que horas são agora?

- Meia noite e eu não tenho para onde ir.

Será que ele ligou para Marianna apenas para conseguir um lugar para ficar? Será que ele realmente gostava de Marianna, ou estava apenas usando-a? Era um preço muito alto que Marianna teria que pagar para saber a resposta. Era a sua segurança e a de seu filho que estavam em jogo.

- Você não deveria ter feito isso. Você está de cabeça quente. Tentou contornar Marianna.

- Eu fiz isso tudo por você Marianna.

- Me liga amanhã. Eu tenho que dormir. Você se esqueceu que eu acordo às cinco.

- Tudo bem. Entendi. Desculpa te incomodar. E desligou o telefone.

Em vão Marianna tentou dormir de novo.

Altair morava próximo da Praça da Liberdade. Pegou sua mala e se dirigiu para lá. Toda sua vida, cabia dentro de uma mala. A praça estava deserta. Era quarta-feira e a garoa teimava em cair.



A sorte parecia que o havia abandonado. Na praça foi assaltado. Um bandido levou todos os seus documentos e seu dinheiro. Restou apenas uma certidão antiga de nascimento, algumas roupas e o que Altair tinha de mais precioso: sua coleção inteira de vinil do Pink Floyd, que estava no fundo da mala. O ano era 2004 e o ladrão nem deveria saber o quanto valia uma coleção daquelas.



Assim que o dia amanheceu, Altair foi até uma loja de discos usados e vendeu todos discos, partiu para a rodoviária e comprou uma passagem para sua Terra Natal, uma cidade no interior de Minas, onde seus avós residiam. 

Marianna ficou muito tempo sem ter notícias de Altair. Ele nunca mais ligou para ela. Todos os dias quando ela chegava ao trabalho, olhava em vão para a janela, agora fechada. Nunca mais seus olhos verdes veriam novamente o "Loirinho dos Passarinhos" fumando naquela janela. Cada dia que Marianna ficava sem ver Altair, era como se ela morresse um pouco a cada dia. Os dias se arrastavam sem ele, sem o seu sorriso. Como Marianna havia sido idiota.

Sua antiga amiga Natasha, convidou Marianna para almoçar em um restaurante árabe que ficava na Avenida Afonso Pena. Marianna que nunca tinha experimentado comida árabe, aceitou o convite.


Depois de conversarem trivialidades, Natasha perguntou:

- Ei Nêga, o que é que há? Você está triste. Para Natasha, todas suas amigas eram "Nêga".

- Acho que eu nunca mais vou ver o Altair. Como eu fui burra Natasha!

- Não se condene Marianna. Pensar dessa forma, não vai trazer o Altair de volta. Por que você não liga para ele?

- Ligar como? Se eu nem tenho o número dele. Nem sei para onde ele foi.

- Talvez a ex dele saiba. Por que você não liga para ela?

- É melhor eu deixar para lá. Muito boa, essa comida árabe. Meu horário de almoço já está quase no fim. Vamos nessa?

No caminho as amigas andavam, Marianna reparou em um outdoor que dizia em letras garrafais:

DIAS MELHORES VIRÃO

- "Dias melhores virão" Nossa que frase forte. Deve ser uma nova campanha publicitária. Ou talvez seja um sinal.

- Marianna, você vê sinais em tudo. Esse seu lado bruxa está cada vez mais forte.

- Se eu pudesse ao menos ver Altair novamente.

- Onde fica a tal loja da ex dele, Marianna?

- Fica bem ali, naquela Rua, onde tem o relógio do sol...

- Ei Marianna, você está pálida, o que houve?

- Me belisca Natasha. É ele.

- Onde Marianna, não estou vendo nenhum loiro cabeludo.

- Ali em frente a banca de revistas. Eu não acredito. Ele cortou o cabelo. Eu vou falar com ele, depois a gente se fala, beijos Natasha.

- Boa sorte Marianna!

O coração de Marianna batia aceleradamente, como será que Altair a trataria?

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um encontro inusitado

Marianna chega na loja, disposta a conversar seriamente com Altair. O aroma de incenso é forte e na vitrola está tocando Sweet Dreams na voz do Marilyn Manson. Marianna gosta dessa música com Eurythmics. Marianna detesta Marilyn Manson, iria pedir para Altair trocar o disco.


Mas entrando lá, ele não está. Marianna é surpreendida pela esposa de Altair, que estava sentada de costas. De perto e frente a frente, ela é mais bonita do que Marianna se lembrava (apesar de ter mais de quarenta anos), quando a viu pela primeira vez no Mercado Mundo Mix.

- Então você é a famosa Marianna! Falou a esposa em tom de ironia.

- E você é a famosa Duquesa das Alagoas. Respondeu Marianna por sua vez.

- Eu sei que você está tendo um caso com meu marido. E sei também que ele está disposto a me deixar, para ficar com você...

- E...

- E que eu não ligo. A verdade é que ele sempre foi um peso para mim. No fundo, no fundo meu casamento foi um erro. E você veio para me libertar dele.

- Isso quer dizer que você não está chateada. E vai abrir mão dele assim, sem mais nem menos.

- Papai não queria que eu ficasse solteira para sempre. Eu precisava me casar e ele casou comigo. No começo Altair foi muito bom e gentil. Mas com o passar do tempo, ele se tornou um chato. Sempre reclamando dos meus amigos.

- Quer dizer que ele foi apenas um objeto para você usar e jogar fora, depois de ter prazer? Perguntou Marianna parafraseando Legião Urbana.



- Eu usei ele e ele me usou. Assim como ele está te usando e você está usando ele também. Ouça bem a música Marianna, preste atenção na letra.

- Você é pior do que eu pensei. Você é suja.

- Ei queridinha, suja aqui é você. No fundo você não passa de uma vadiazinha. E Altair é um psicopata, com o tempo você vai descobrir.

- Ao menos eu me mantenho, não preciso da grana do Papai até hoje, como você. Acorda para a vida Duquesa.

- Acorda você Marianna. Acorda você!

Um telefone está tocando. Tocando sem parar. 
Marianna abre os olhos. Ela está deitada em sua cama. Tudo não passou de um sonho. Melhor dizendo, um pesadelo. Marianna está tremendo ainda devido a emoção do sonho, tão real e intenso. Ela olha no relógio, é meia noite de uma quarta-feira. Mas antes que seu filho Bruce acorde ela se levanta e vai atender o telefone.

- Oi Marianna, sou eu Altair.

- Nossa você me tirou de um pesadelo terrível.

- Estou te ligando para te avisar que eu terminei tudo. Briguei com minha esposa e estou na Rua. ..

domingo, 24 de julho de 2011

Regina se decide

Marianna que pretendia ficar ao menos quinze dias no Sul da Bahia, voltou em menos de uma semana. Bruce não parava  de chorar e não dava sossego. A irmã de Marianna vomitava sem parar, devido a gravidez. Marianna que havia viajado, para colocar as ideias no lugar, a respeito de Altair, só tinha um desejo: ficar com ele para "sempre".

Se é que "sempre" existe.  Assim como na música "Forever" do Kiss, Marianna não tinha mais dúvida alguma.


- Ei Marianna eu estou falando com você. Disse Regina.

- Desculpa. É que eu estava longe. O que você falou mesmo? Perguntou Marianna.

- Assim que chegarmos em Minas. Eu vou procurar alguém para tirar meu bebê.

- Do que você tem medo? Afinal, você não será a primeira nem a última mãe solteira.

- Mãe solteira não é o problema. O problema é nossa mãe.

- Você deveria ter pensado nisso antes. Agora fala baixo, que vamos acordar o ônibus todo.


Assim que ônibus chegou à Capital Mineira, Marianna pegou Bruce e foi para sua casa. Regina também foi para casa e uma semana depois, conseguiu encontrar uma senhora que fazia abortos. Regina que sempre teve um medo mortal de tomar uma simples injeção, deitou-se na cama e ficou esperando a mulher começar o serviço. Assim deitada, Regina lembrou-se da conversa que teve com Marianna. Lembrou-se do seu sobrinho Bruce, correndo feliz e chorou.

- Você tem certeza que você quer tirar o bebê? Perguntou a mulher.

- Eu não vou tirar mais. Eu vou ter o meu filho. Me desculpe, fazer a Senhora perder o seu tempo.

- Tudo bem. Isso acontece.

Regina desistiu de fazer o aborto e contou tudo para o pai da criança. Juntos decidiram se casar. Como mandava o figurino: Regina se casou no cartório e na igreja. Apesar da barriga estar bem grande no dia do casamento. Era evidente que  todos sabiam que a noiva estava grávida.


Apesar de ter ficado com raiva de Marianna, esta compareceu ao casamento. Seu velho amigo Danilinho, levou Marianna na igreja e ficou ao seu lado o tempo todo. Marianna queria que Altair estivesse ao seu lado. Mas ela sabia que seria muito difícil Altair se livrar do seu casamento. Marianna não queria ser a "outra" para o resto da vida. Marianna já tinha tomado sua decisão. Agora quem deveria se decidir, seria Altair.

domingo, 17 de julho de 2011

Difícil decisão

Marianna pensava que ia ter paz e sossego para colocar as ideias no lugar, mas ela estava redondamente enganada. Os acontecimentos que se desenrolaram naquelas fatídicas férias,  proporcionaram um sentimento de impotência em Marianna.

Marianna embarcou na Rodoviária de Belo Horizonte, junto com o filho Bruce e a irmã Regina, rumo à Caravelas no Sul do Estado da Bahia. Mas Caravelas não era o "ponto final" daquela viagem. Era necessário ainda 'tomar' outro ônibus para o Distrito de Ponta de Areia, onde residia a avó materna das irmãs. 


Ponta de Areia parecia um vilarejo esquecido no mapa. Apenas algumas casas em estilo francês, remetiam ao passado glorioso da Vila que um dia foi "Ponto final da Bahia-Minas" imortalizada na música de Milton Nascimento, que Marianna adorava ouvir na Voz de Elis Regina.

"Ponta de areia ponto final
Da Bahia-Minas estrada natural
Que ligava Minas ao porto ao mar
Caminho de ferro mandaram arrancar
Velho maquinista com seu boné
Lembra do povo alegre que vinha cortejar
Maria fumaça não canta mais
Para moças flores janelas e quintais
Na praça vazia um grito um oi
Casas esquecidas viúvas nos portais"


A avó de Marianna era uma dessas viúvas que ficava na janela. Apesar de ter mais de oitenta anos e ser cega.  Houve um tempo em que Dona Maria conhecia as pessoas que passava pela rua, apenas ouvindo o som dos passos. Mas a idade avançada, fazia Marianna pensar que essa seria a última vez que veria a avó com vida. Bruce que iria completar três anos, se recusou em chegar perto da velha bisavó. 

Apesar da mãe sempre negar que o nome da irmã era uma homenagem a Elis Regina, Marianna sempre pensou o contrário. Agora ela estava em Ponta de Areia, acompanhada da irmã Regina que estava grávida e do Filho Bruce que não parava de chorar. Também com um calor de mais de quarenta graus, era de se esperar que o pequeno estranhasse.

Marianna que adorava tirar fotos, não conseguiu tirar uma só que prestasse. Regina não queria aparecer em nenhuma, apesar da gravidez estar no início, tinha medo que alguém visse as fotos e desconfiasse. Bruce chorava sem parar e só queria ficar no colo.

Na praça de Ponta de Areia debaixo de uma árvore muito antiga, que muitos diziam ser mal assombrada, Marianna e Regina conversavam:


- Marianna você vai me ajudar, não vai?

- Você quer que eu te ajude a contar pra nossa mãe, que você está grávida?

- De jeito nenhum.

- Então...

- Eu não posso ter esse bebê. Eu preciso tirar ele de dentro de mim o mais rápido possível.

- Olha Regina estamos no ano de 2004. Existe camisinha, pílula anticoncepcional, pílula do dia seguinte e mesmo assim você engravidou. E se você tivesse pegado Aids?

- Credo, vira essa boca pra lá.

- Mas poderia ter acontecido ou até mesmo uma sífilis, gonorréia e outras tantas doenças. Você tem que virar pro pai do seu filho e pedir para ele te ajudar isso sim!

- Ele vai me ajudar. Ele falou que vai me dar dinheiro para fazer o aborto.


- Então ele que arrume alguém. Eu não posso compactuar com uma monstrualidade dessas.

- Se você não me ajudar, eu posso cair na mão de um açougueiro e morrer. Então você vai ficar com remorsos o resto da vida.

- Na hora que vocês gozaram eu estava lá?

- Por favor, não fale assim. Pediu Regina com os olhos marejados.

- O que faz você pensar, que eu conheço alguém que faz isso?

- Você conhece tanta gente. Você é independente, separou do marido e não voltou para a casa da mãe, como fazem tantas mulheres. Eu nunca quis ser mãe eu nem tenho jeito para isso. E o pior de tudo: eu nem trabalho!

- Qualquer argumento que você disser, não vai me comover, pense no seu filho! Ele é apenas uma sementinha dentro de você, mas seu coraçãozinho já bate!

- Se você não me ajudar. Eu me mato...


domingo, 10 de julho de 2011

Partindo

Marianna querendo colocar as ideias no lugar, resolveu que era hora de dar uma parada estratégica em tudo que estava acontecendo.

Depois de ouvir a declaração de amor de Altair, Marianna ficou muito balançada. Era verão do ano de 2004, quando novamente Marianna iria tirar suas tão merecidas férias anuais. Ao invés de buscar refúgio nas montanhas do Sul de Minas, Marianna escolheu outro roteiro: o Sul da Bahia.


Antes de viajar porém, ela resolveu se despedir de Altair. Assim na última sexta-feira útil antes do Carnaval, Marianna passou na loja.

- Oi Altair como vai?

- Oi Marianna, como você está linda. 

- Eu vim aqui me despedir de você. 

- Como assim, se despedir?

- Eu vou entrar de férias e vou viajar. Minha esperança era que você pudesse viajar comigo.

- Você sabe que eu não posso. Mas você vai voltar, não é mesmo?

- Claro que vou. Estou indo para o Sul da Bahia. Vou visitar minha avó.

- Você vai sozinha?

- Vou com meu filho e com minha irmã. Viajamos hoje à noite.

- Já estou imaginando, em pleno Carnaval, uma rockeira na Bahia.

- Estou levando meus CDs. Vou começar ouvindo Megadeth e matar os baianos de raiva. O trio elétrico passando e eu com meu rock tocando no "talo".


- Não se esqueça de mim. 

- Eu preciso dar um tempo para refletir. Vou aproveitar e curtir meu filhote um pouco, ele vai fazer três anos e eu trabalho tanto, que quase nem tenho tempo de ficar com ele.

- Boa viagem então.

Altair segurou Marianna pela cintura e a beijou longamente. O simples contato com ele, deixava Marianna toda arrepiada.

- Até a volta Altair.

- Até Marianna.

O resto do dia passou voando, Marianna já tinha levado sua mochila para o trabalho. Às dezoito horas, bateu seu ponto e foi para a rodoviária se encontrar com sua irmã Regina. Ao invés de se espremer num ônibus, como fazia todas as tardes, resolveu descer a pé. Seu ônibus partiria às vinte e três horas, teria tempo de sobra. O dia ainda estava claro e o abafado, o trânsito como sempre engarrafado. Parecia que todos os mineiros iriam viajar naquele Carnaval.

Uma semana longe de Altair, seria tempo suficiente para descobrir se realmente gostava dele, ou se tudo não passava de mais uma grande ilusão.

Ao chegar na Rodoviária, Marianna se assustou com a quantidade de pessoas que se espremiam, em busca de passagens na última hora.


Era uma espécie de formigueiro humano, pessoas iam e vinham com malas nas mãos. Marianna com muita dificuldade, passou em uma lanchonete e comprou pão de queijo para comer na viagem. Em seguida, foi para uma livraria, folear livros para passar o tempo, aproveitou e comprou uma revista de palavras cruzadas. Marianna se dirigiu para a plataforma de embarque e tentou se concentrar em sua revistinha. 

Marianna tinha 25 anos e sua irmã 22. Era praticamente um milagre, a Mãe deixar a irmã viajar sozinha com Marianna. Aquela semana seria uma boa oportunidade de se aproximar novamente de Regina. Como todas irmãs, elas tinham suas diferenças, mas o sangue falava mais alto. Marianna sempre viu Regina, como uma cópia em versão menor da Mãe. Sempre autoritária e querendo ditar todas as regras. No fundo Regina era apenas mais uma jovem insegura, que escondia-se atrás de uma falsa máscara de superioridade.

Pouco tempo depois, Marianna avistou Regina, trazendo Bruce pela mão.

- Oi meu filhinho, sentiu saudades da Mamãe?

Ao que Bruce respondeu um monte de palavras soltas indecifráveis próprias para uma criança de sua idade.

- Animada para a viagem Regina?

- Nem me fale, Marianna, mas antes eu preciso te contar uma coisa.

- Nossa Regina você está pálida. Você está passando bem?

- Você precisa me ajudar!

- Fale logo, você está me assustando.

- Eu estou grávida.