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domingo, 3 de outubro de 2010

Debaixo de um pé de amora

Se eu te contar a história de Marianna você chora. Porque eu chorei e choro até hoje ao me lembrar dela.

O ano era 1991. Marianna tinha treze anos. Foi um ano ímpar em sua vida. Seus pais moravam de aluguel e finalmente conseguiram comprar sua casa própria, financiada em 25 anos. A mudança para a periferia mudaria sua vida de tal forma que ela nunca mais seria a mesma.
Logo após a mudança viajou pela primeira vez com seu pai para sua terra natal no interior para conhecer seus tios e primos que só conhecia por fotos. A viagem de ônibus durou umas dez horas, pois eles se dirigiam para outro estado. Apenas Marianna, o pai e o irmão caçula. A mãe e a irmã ficaram, pois os recuros eram insuficientes para irem todos. Dessa viagem apenas a lembrança da represa de Furnas que divide os estados de Minas e São Paulo. E uma música do Guilherme Arantes, que até hoje fica tocando na cabeça de Marianna. "Sob um efeito de um olhar".


Na volta, veio a grande notícia. Seus pais se separaram. Até aí tudo bem, pois as brigas entre eles eram constantes, então era melhor cada um seguir o seu rumo.
Mas o pior estava por vir. A mãe de Marianna trouxe uma amiga para morar com eles. O apelido da amiga Soraia Sapatão.
Apesar da pouca idade, Marianna sabia que alguma coisa estava errada. As duas dormiam juntas na mesma cama. Aquilo definitivamente não estava certo. Se fosse Marianna a se interessar por uma menina, mas a mãe que tinha três filhos...A mãe que traía o pai descaradamente com vários homens: o açougueiro, o cobrador de ônibus, com um cara no clube...Agora da noite para o dia morando com Soraia Sapatão.

A mãe de Marianna conseguiu um emprego em uma fábrica. Trabalhava em três turnos. Os dois irmãos menores iam para escola, assim como Marianna. Soraia cuidava da casa. Arrumava tudo, limpava, lavava e cozinhava. Até que ela não era uma pessoa ruim. Seu problema era a bebida. Nos fins de semana Soraia bebia prá valer. Depois vinham as brigas que eram constantes. Agressões, tapas, socos e pontapés. 
Ao menos Soraia Sapatão nunca encostou um dedo em Marianna e na irmã. Encostar nos dois sentidos. De bater ou até mesmo bolinar.

Marianna chorava ao lembrar do pai. O pai tão bom que nunca bateu na mãe. A mãe é quem o dominava sempre. Todo dinheiro que o pai ganhava no mês, na época qua ainda eram casados, ia para a mão da mãe. Nem uma simples coca-cola o pai tomava.
Agora vinha Soraia e espancava a mãe. No fundo, no fundo a mãe gostava de apanhar. Pois era só mandar Soraia embora. Afinal de contas a casa era da mãe. Mas Soraia era quem cuidava de Marianna e dos irmãos, se ela fosse embora a quem caberia esse papel?
A vida de Marianna era um inferno. As horas boas eram quando o pai vinha buscá-los para passar o fim de semana. Eles faziam muitos passeios legais. Iam ao parque, na feira de artesanato, comiam fora.
O pobre pai não conseguia se acertar com nenhuma mulher. Isso pode ser atribuído ao fato de ter sido trocado por outra mulher. A estima do pai estava aos frangalhos, despedaçada e dilacerada. Marianna até que sonhava com o dia em que pai viria resgatá-la das garras da mãe louca. Mas esse dia nunca chegou.
Para conquistar a confiança da filha a mãe deixava Marianna sair à noite.

Dois anos se passaram. Marianna tem quize anos. O ano 1993. Marianna não tem um namorado, pois no bairro ela é conhecida como a filha da mãe que mora com Soraia Sapatão. Ela já ficou com alguns caras, mas só beijo na boca. Ela até que não é feia. Morena, cabelos cacheados, olhos verdes herdados da avó que Marianna não conheceu. Mas a auto-estima é que faz com que Marianna pense que não pode ser amada. 

A "baixo-auto-estima" melhor dizendo. Pois a mãe sempre jogou na cara que a vida dela era ruim por causa dos três filhos. A mãe não tem um pingo de pudor. Anda pela casa sem roupa, com as banhas aparecendo. Vai ao banheiro com a porta aberta. Pega nos seios e diz: "Tá vendo essas muxibas? Foram vocês três que chuparam! Por isso eles caíram! E você Marianna,  hoje seus peitinhos estão durinhos, mas um dia eles vão cair iguais aos meus".

Marianna torce para mãe estar errada. 
Com quinze anos Marianna está na oitava série. E é uma boa aluna . Apesar da vida instável que tem em casa. Isso não a derruba, pois ela é uma das melhores alunas. Querida pelos professores, invejada pelas colegas ricas, lindas e burras. Marianna não faz o menor esforço para estudar. Apenas presta atenção nas aulas. E sempre se saí bem nas provas. 
Os irmãos não tem a mesma sorte. Tomam uma bomba atrás da outra. Como uma forma de pedirem socorro. Em 1993 não existia conselho tutelar. E mãe louca vai destruindo os filhos.





6 comentários:

  1. Noossa. Chorei.
    Belas fotos.

    PArabens.
    visita o meu tbm
    http://extroversiva.blogspot.com/

    :)

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  2. Nossa!
    Chorar não chorei, mas dá um aperto aqui dentro, rsrs.

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  3. Vc escreve muito bem!! Lembra-me uma amiga minha que também tem uma mãe homossexual. Começando a ler e a comentar desde então *-*

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  4. A coisa começou a pegar aqui, então... queria que me explicasse mais sobre o tal pé de amora, mas enfim. Gostei muito..... Soraia sapatão é demais, meu deus, que figura não deve ser!

    Abraços!!

    F.

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  5. agora que sei da mariana fica tudo mais claro!

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  6. Bia, voltei a ler sua pg a partir desse primeiro capítulo porque estava perdido. Então farei assim: não vou ler as postagens novas/fora da ordem. Talvez fosse interessante vc criar uma pg vinculada a essa com um resumo dos principais personagens. Eu farei isso em minha webcomic. DD jeito que eu e vc fazemos, as pessoas olham e: "nossa, tantos capítulos? um dia eu leio" e esse dia nunca vai chegar. Abs!!

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